Quando vencer te torna um derrotado

Nem sempre não perder te torna um vencedor; nem sempre não vencer te torna um derrotado

Há uma filosofia no jogo das relações humanas facilmente aplicável ao jogo das disputas eleitorais, até porque o que mais há em uma campanha eleitoral são relações de natureza humana: pior do que não saber perder é o vexame de não saber ganhar.

Primeiro que vencer se torna uma derrota quando não se ganha com dignidade. Depois, o comportamento de quem ganha e de quem perde diz muito sobre quem, de fato, é o vencedor e quem tem dignidade.

Quem venceu? Aquele que enfrenta a derrota de cabeça erguida diante de um adversário superior ou aquele que escarnece do adversário derrotado, e que pisa sobre ele, depois de ter conquistado a vitória? Não há dignidade quando ganhar te faz mesquinho e não te faz ter humanidade

Desde antes dos 20 anos de idade, participo de eleições, inclusive como candidato. Venci inúmeras vezes e fui derrotado tantas outras. Acontecimentos me permitiram amadurecer e me tornar um ser humano melhor.

Aprendi o quanto um ser humano deixa de ganhar mesmo quando é vencedor, e se torna indigno, arrogante, prepotente. Aprendi também o quanto um perdedor se sente mais derrotado ainda por não saber lidar com a derrota.

Após algumas experiências, tenho a clareza de que, mesmo nos momentos em que não venci, não fui um derrotado. Aprendi a ser um vencedor por ter a dignidade de saber perder. Aprendi também que ganhar não me dá o direito de escarnecer e humilhar quem foi vencido.

Aprendi mais ainda. Presenciei amigos trocando farpas e jogando fora boas relações em nome de projetos políticos que sequer eram seus, e que eu não queria isso pra mim.

Aprendi que adversários não são inimigos e que as boas relações devem ser preservadas e cultivadas com mais afinco após uma disputa onde amigos e colegas se colocam em lados opostos. Assim, sei que, independente do resultado de uma eleição, serei sempre um vencedor.

Isso só é possível a quem tem dignidade. Não se deve esperar algo assim de quem, atrelado a um projeto eleitoral apenas como um serviçal, continue com palanque armado, mesmo quando o próprio vencedor do pleito já desceu do palanque.

O rei vence, assume o trono, mas o bobo da corte grita e faz estripulias no palco. É isso que acontece quando vencer te torna um derrotado.

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