MA é o 2º estado em conflitos agrários no país; comunidades quilombolas são as mais afetadas com violência no campo
Carlos Brandão parecia cansado, algo até esperado, dada a rotina de campanha enfrentada especialmente após ter passado por uma cirurgia recentemente. Mas, para além, parecia desnorteado, com fala arrastada e tropeçando na palavras mais do que o normal.
Entretanto, o que mais chamou atenção foi a fala do governador-tampão quando questionado sobre o tema Comunidades Tradicionais, e a forma como se referiu especialmente aos povos indígenas e quilombolas.
Na visão colonialista do candidato, esses povos estão “atrasados” e o governo está levando “progresso” para eles. Pensamento clássico da elite latifundiária, da qual a família Brandão faz parte no interior do estado.
O governador falou que “a gente tem que conviver com eles”, e, para completar o show de horror na fala, Brandão diz que “eles são seres humanos como a gente”.
O candidato deveria ter sido confrontado com alguns números do Maranhão durante o governo Dino/Brandão. Só em 2022, por exemplo, o estado registra quase 100 ocorrências de conflitos agrários, e as principais vítimas são exatamente os povos indígenas e quilombolas.
Agricultores familiares e comunidades tradicionais são violentadas por grileiros de terra, latifundiários e empresários do agronegócio, inclusive sob o manto protetor de licenças ambientais concedidas, sabe-se lá a que modo, pela Secretaria de Meio Ambiente do próprio Governo do Maranhão.
Mortes, invasões, ameaças, desmatamento, agressões, tentativas de homicídios, incêndios, intimidações são registros comuns que levaram o Maranhão ao patamar de 2º estado com mais conflitos de terras, atrás apenas do Pará.
Em todos os casos registrados, o silêncio de Brandão e Flávio Dino foi sepulcral. Não há uma manifestação de ambos sobre o tema em nenhum documento ou rede social.
Então, mais do que preconceituosa, a fala do governador-tampão na sabatina do imirante é uma manifestação de desconhecimento do próprio governo e das mazelas que atingem as comunidades tradicionais no Maranhão.
A não ser que seja muito pior. Que seja conivência criminosa e cumplicidade com toda a violência sofrida por esses povos.