Ex-petista, atualmente socialista, gesto do deputado pode representar guinada à “direita” para as próximas eleições municipais
O deputado estadual reeleito Dr. Yglesio é um “doido”, assim entre aspas mesmo. É o tipo ousado, destemido, corajoso, como ele mesmo faz questão de se definir. Alguém já disse que “o mundo é dos loucos, pois se não houvesse loucura como haveria ousadia?”
Ex-aliado de Flávio Dino, comunista não conseguiu colocar coleira no doutor, que também não admitiu o tratamento recebido do então governador. Aliado e participe do grupo do atual governador Carlos Brandão, e filiado ao mesmo partido governista, Yglesio declarou voto em Jair Bolsonaro, contrariando fatalmente as diretrizes do seu partido. Um “doido”.
Yglesio não deve permanecer no PSB, que já queria sua expulsão ainda durante a campanha, por causa de uma de suas “loucuras”. Autêntico, Yglésio fez declarações que desagradaram dirigentes partidários do PSB. Inteligente, o deputado recuou e trabalhou para garantir sua reeleição lutando contra boicotes dentro da própria legenda.
Agora, já tem partido bolsonarista de portas abertas lhe esperando. O convite já foi feito por André Fufuca, aliado de Bolsonaro e dirigente do Progressistas. A forma como se dará a saída do PSB é outro assunto.
No entanto, a ideia deste texto é imaginar o que permeia a cabeça “doida” de Yglésio com a declaração de voto em Bolsonaro. Um gesto que se direciona claramente para os eleitores bolsonaristas.
Candidato a prefeito em 2020, o deputado sonha em ocupar o Palácio La Ravardiere, e espera ser candidato novamente em 2024. Pelo grupo Brandonista, a briga é de foice e martelo, com chance zero de que Yglesio seja candidato do grupo.
Para que tenha chance de ser candidato, terá de mudar de partido. E para que tenha alguma chance de disputar com chances reais de, pelo menos, chegar ao segundo turno, precisa se posicionar em um nicho que lhe permita brigar por outros votos que não sejam do campo político centro esquerda.
A depender da quantidade de candidatos em 2024, os votos desse campo acabam se distribuindo entre vários postulantes. Mas existe um eleitorado que, comprovadamente, costuma votar em bloco em um político quando este consegue ser “adotado”. São os eleitores bolsonaristas.
Em 2022, na disputa para governador, Dr. Lahésio, também ex-petista, foi “adotado” e votado em bloco por eleitores bolsonaristas, o que lhe garantiu sair da capital em segundo lugar com 28% dos votos. Seria um percentual suficiente para levar um candidato ao segundo turno na capital, a depender, claro, da pulverização de votos, entre outros candidatos.
Yglesio, se, a partir deste primeiro gesto, conseguir se posicionar no campo bolsonarista, que elegeu de forma expressiva seus candidatos em vários estados do país, poderá ser adotado como o candidato desse campo em 2024, e reunir as condições eleitorais de disputar um segundo turno.
Evidente que há inúmeros “se”, e infinitas possibilidades de composição até lá, inclusive o resultado da eleição presidencial. Mas, essa não seria uma aposta totalmente errada, do ponto de vista de estratégia política. Yglesio é um cara inteligente e, certamente, tem sabido calcular seus passos até aqui. Tem sabido a hora de correr, de andar, de parar e até de recuar. Aguardemos as cenas dos próximos capítulos.