O reino do rei nu
A visita de Lula a São Luís acaba por evidenciar situações já expostas pela imprensa, no entanto, omitidas ou negadas de algum modo. Seja sobre as relações entre Dino e Brandão ou sobre a tentativa de tolher Camarão; seja sobre criar falsas narrativas de proximidade ou sobre a falsa premissa no São João do Maranhão. São coisas em que o presidente Lula ou é alheio ou se faz de desentendido e naturalmente, de maneira sutil, para desdita dos envolvidos no teatro, desnudou-as em palanque ou em entrevista em sua breve estada na capital maranhense.
Sem nução
Ao referir-se a Flávio Dino, o presidente Lula disse que o ex-governador e ex-ministro da Justiça não estava no palanque porque foi promovido para ministro da Suprema Corte do País. Uma plateia formada por uma claque arregimentada por políticos, composta principalmente de agregados de gente que domina o poder local, apressou-se em aplaudir efusivamente as palavras de Lula, assim como aqueles que formavam o palco. Não se viu, no entanto, a palma da mão direita de Brandão se chocar à palma da mão esquerda para tirar um estalado sequer. O governador não foi aquiescente com as palavras elogiosas àquele que lhe “deu” o mandato.
Nós sem ele
O governador Carlos Brandão não citou nem Dino e nem Camarão durante sua fala, e se dirigiu apenas à deputada Iracema quando prometeu à Lula que a maior votação para reeleição do presidente será no Maranhão, diferente de 2022 quando foi o Piauí que registrou o recorde. “Nós vamos ganhar, não vamos, Iracema?”, apontou Brandão, que excluiu Camarão do “nós” em 2026. Por outro lado, Lula rasgou seda para o vice governador, classificando o “companheiro petista” como “bonito e inteligente”.
Falando nisso
O Felipe Camarão parece que sossegou um pouco o facho nos últimos tempos. Melhor coisa que faz. Camarão é, pode-se dizer, virtualmente o próximo governador, e não precisaria neste momento fazer muita coisa além de saber esperar, tal qual fez o atual mandatário do executivo estadual quando vice de Dino. Só que o ímpeto de Felipe já o colocou em bolas divididas, quando ele, por exemplo, comprou brigas desnecessárias, chamou o holofote pra si e gerou repercussões negativas em alguns casos. Felipe, em tese, já é o próximo governador, só não pode ele mesmo ser o principal ator a se tirar dessa condição, principalmente afastando a confiança do governador. Mas…
Indigesto
Outro dia, o presidente da Câmara foi chamado ao Palácio dos Leões para receber uma missão do governador. Paulo Victor foi enviado até Felipe Camarão para propor ao vice ser o candidato de Brandão a prefeito de São Luís, com todo o apoio necessário da máquina estadual. Ladeado de seus mais fiéis assessores, Camarão retrucou: “Paulo, volta lá onde Brandão e diz a ele que eu sou vice governador e vou ser vice até o fim. Se Brandão sair do governo, eu assumo e aí a gente vê se eu vou concorrer a governador em 2026”. Numa demonstração de canina fidelidade à Flávio Dino, Felipe finalizou dizendo que o candidato do grupo a prefeito em 2024 é Duarte Jr.
Pedra
Tem um camarão no meio do caminho; no meio do caminho tem um camarão. Não é de agora o plano de tirar o vice do meio do caminho. Logo após a eleição de Brandão em 2022, Duarte Jr. fez uma visita ao governador com a intenção de garantir ser ele o candidato a prefeito com apoio dos Leões em 2024. Ao entrar no recinto, lá estava o vice-governador eleito. Assim que puxou o assunto, Brandão deu um corte em Duarte, avisando que a preferência era de Felipe Camarão para, se quisesse, disputar a prefeitura de São Luís em 2024. O que parecia ser um gesto de valorização ao vice, em verdade já era a manifestação da ideia fixa de tirar a pedra que poderia atrapalhar o plano maior arquitetado para o futuro sem Dino e seus satélites no Maranhão. Quanto mais o tempo passa, mais fica difícil camuflar as intenções.
Estrela vermelha
Há boatos, e por enquanto apenas boatos, de que há uma articulação adjacente aos Leões para a ida de Iracema para o PT. A jogada poderia resultar numa neutralização de Camarão dentro da legenda e tornar inócua qualquer resistência ou oposição ao nome de Iracema como sucessora de Brandão. Boato ou não, essa ideia faz alguns sentidos. Seria até mais fácil, por exemplo, para que o presidente Lula firmar apoio ao nome da presidente da Assembleia quando for colocado por Brandão. Lula só teria olhos para Camarão se o vice assumisse como governador. Fora isso, o pragmatismo de Lula no Maranhão já mostrou como age o petista, que, mesmo “amigo” de Dino, declarou apoio a Roseana. A água só corre pro mar, meus amigues.
Maior?
A narrativa criada pelo governo do Maranhão de que temos o “maior São João do mundo” não resistiu aos primeiros segundos da entrevista concedida pelo presidente Lula ao radialista Jorge Aragão. Nas boas vindas, o profissional levantou o conto sobre a festa junina maranhense e foi cortado por Lula: “eu pensei que (o maior) São João era em Caruaru e Campina Grande”, alegou, olhando diretamente para o governador sentado ao lado. A afirmação de que o Maranhão tem “o maior São João do Mundo” parte da premissa de que a festa acontece durante mais tempo do que em outros estados, logo seria maior. É um falso silogismo. O São João do Maranhão é o que dura mais, não o maior.
Leal ao poder
Depois de pedir voto pra Bolsonaro contra Lula em 2022, o nepobaby da política maranhense que hoje ocupa o Ministério dos Esportes discursou desejando que lula se perpetue no poder até 120 anos. André Fufuca, o Fufuquinha, foi um dos mais efusivos cabos eleitorais de Bolsonaro em 2022, com discursos enérgicos em prol do Mito. No entanto, desejou que Lula se transforme numa espécie de presidente vitalício para “derrotar de vez por todas os inimigos do país”, referindo-se aos bolsonaristas. Fufuca encerrou gritando um vibrante “Viva Luís Inácio lula da Silva”. Um amor que só dura até o próximo presidente chegar ao poder.
Imagem da semana
Falando nisso
Os deputados Rubens Jr. e Duarte Jr. aproveitaram o momento em que o governador Brandão discursava para ocupar a cadeia do governador no palanque ao lado de Lula para fazer fotos com o presidente. Provável que a legenda nas imagens seria do tipo “tive a oportunidade de conversar com o presidente…”. Realidade: dois segundos para uma selfie puxando o saco de Lula e fazendo arquivo para enganar eleitor na eleição fingindo proximidade. Enquanto tem político que acha que eleitor é otario, essa gente tem certeza.
Vigiar e punir
O trânsito de São Luís está se transformando num verdadeiro Big Brother. Só que diferente do reality, quem ganha o grande prêmio são os cofres da prefeitura. O talão chega pelos correios e é o condutor quem paga para o município. Há milhares de câmeras espalhadas por avenidas e cruzamentos, e há mais sendo instaladas. Somente no cruzamento da Forquilha é possível identificar mais de uma dezena de câmeras dispostas para vigiar o trânsito e punir motoristas. Quando o objetivo deixa de ser educar, evitar acidentes e preservar vidas e se torna punir e arrecadar, passa a ser uma indústria. Pouco importa se o motorista vai causar um acidente ao cometer uma infração, o importante é que ao comete-la o município coloque dinheiro no cofre.
Falando em punição
Fazedores de cultura que ousem reclamar dos desmandos do governo estão sendo colocados numa lista e sendo excluídos pela Secretaria de Estado da Cultura. É preciso sofrer calado como um cordeiro rumo ao matadouro, senão vai ficar sem o cachê do ano passado e sem apresentação nenhuma em 2024. É preciso ficar calado senão nem vai receber também o cachê deste ano. É preciso não reclamar senão serão suspensas as apresentações já agendadas. Parabéns aos envolvidos.
Pra encerrar
O deputado Othelino Neto, em seu papel de oposição, tá valendo por 40 deputados na Assembleia Legislativa do Maranhão. Experiente, metódico e articulado, Neto tem dado dor de cabeça para o Executivo Estadual que tem tentado reagir com seu elenco da Casa Legislativa. O problema é que dos que receberam a missão, quase todos precisam andar léguas no legislativo para se equiparar com o nível de Othelino.
