Governo Brandão silencia sobre caso de corrupção e propina que acabou em assassinato

Passado 1 mês do crime que envolve o sobrinho do governador do Maranhão, a polícia ainda não se pronunciou sobre a presença do “rapaz careca”.

No dia 19 de agosto, o empresário João Bosco foi assassinado a tiros por Gilbson Cutrim, após uma reunião com o vereador Beto Castro e o secretário de estado Daniel Itapary Brandão, sobrinho do governador-tampão e homem forte no governo.

Beto, Gilbson e Bosco

A pauta da reunião entre os 4 elementos era a cobrança de propina de 50% sobre um pagamento recebido na Secretaria de Estado da Educação, no valor de R$ 778 mil, devido pelo governo desde de 2014, que estava em “restos a pagar” por 8 anos.

Gilbson conta que foi procurado por um advogado, identificado apenas como Jean, para fazer lobby dentro do governo Brandão para a liberação do pagamento, em troca lhe foi prometido um percentual que começou em 20%, depois aumentou para 30%. Gilbson envolveu o vereador Beto Castro na negociação.

Num processo que durou cerca de 24h, o pagamento foi empenhado, liquidado e pago pela Seduc. Mesmo com a inaptidão da empresa, com ausência de certidões e documentos exigidos para habilitar o recebimento, o pagamento foi feito em tempo recorde, o que só seria possível com a intervenção de alguém muito influente e poderoso dentro da administração estadual.

Informação sobre o pagamento no Portal da Transparência

Com o pagamento liberado, o percentual da propina subiu para 50%. Gilbson conta que vinha sofrendo pressão para fazer o pagamento dessa “comissão”, que estava do fora acordado anteriormente.

Assim, foi marcado um encontro entre as partes para resolver o recebimento da propina. No dia 19 de agosto, Gilbson se dirigiu para o edifício Tech Office após receber vários telefonemas de Beto e Bosco, segundo o depoimento. Ao chegar no local, o secretário Daniel Itapary Brandão também estava lhe aguardando, e foi ele – Daniel – quem puxou a cadeira para Gilbson sentar.

Daniel, Beto e Bosco aguardam a chegada de Gilbson no Tech Office

Os 4 permaneceram conversando por pelo menos dois minutos na mesa. Um breve tempo depois, após Daniel se levantar, houve uma discussão e Gilbson tentou ir embora. Poucos segundos mais tarde, Bosco foi assassinado a tiros por Gilbson. Tudo registrado por câmeras de segurança.

A polícia iniciou as investigações com a omissão da presença de Daniel Brandão na cena do crime, apesar da citação no depoimento da esposa da vítima, a viúva Eliza Maria, sobre a chegada de um “rapaz careca” no local junto com Bosco e Beto. Essas imagens não foram levadas ao conhecimento público pelas autoridades policiais.

Policiais analisam as imagens das câmeras no dia do assassinato

No dia seguinte ao crime, em 20 de agosto, Beto Castro citou nominalmente a presença de Daniel na mesa de negociação, em depoimento prestado ao delegado Murilo Tavares, informação também omitida da imprensa e do público.

Trecho do depoimento de Beto cita Daniel

Jornalistas, entretanto, tiveram acesso às imagens e aos depoimentos confirmando a presença do sobrinho do governador. Mesmo com tudo revelado, a polícia não se pronunciou e continua sem dar declarações sobre o caso, que já teria sido dado como elucidado apenas como homicídio por conta de cobrança de dívida, se não fosse a atuação da imprensa.

O assassino se apresentou à polícia no dia 29 de agosto e, em depoimento, revelou que cometeu o crime por estar sendo pressionado a pagar a propina, com ameaças à sua família. Bosco teria dito que sequestraria o filho de Gilbson se este não fizesse o pagamento.

Recolhido ao presídio, o assassino foi solto 8 dias depois com um habeas corpus concedido pelo desembargador Francisco Ronaldo Maciel Oliveira.

Gilbson César Cutrim

Procurado por mais de uma vez, o Governo do Maranhão não responde aos questionamentos sobre o caso em relação ao pagamento a uma empresa inapta, à velocidade do processo e à participação do secretário no local do crime. Assim como o próprio secretário Daniel Brandão foi procurado mas não respondeu nossas mensagens.

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