O grupo de jornalistas que investiga o caso chegou a uma espécie de contabilidade com a destinação de altas quantias a vários políticos
Até agora, o assassinato do empresário João Bosco é tratado pela Polícia como se fosse um crime comum, decorrente de uma cobrança de dívida.
No entanto, na mesa de negociação e intermediação do percentual de propina sobre um pagamento oriundo da Secretaria de Estado da Educação estavam um vereador e um secretário de governo, além de vítima e assassino. E o delegado demonstra agir no inquérito para proteger o secretário de estado, em razão de parentesco com o governador.
Um consórcio de jornalistas independentes tem revelado uma teia de relações políticas que, agora se sabe, para além dos personagens sentados à mesa no dia crime.
Tivemos acesso a anotações feitas à mão que podem revelar um esquema de distribuição de dinheiro com origem duvidosa, tal qual o tipo de pagamento de propina discutido antes do assassinato de Bosco, no dia 19 de agosto de 2022.
Em depoimento, o assassino Gilbson Cutrim contou à polícia que teria sido procurado por um tal de Jean para intermediar o recebimento de um pagamento de 2014 da SH Vigilância por serviços prestados ao governo. No entanto, a verdade pode ser outra.
De acordo com as informações obtidas pelos jornalistas que investigam o caso, Gilbson César Cutrim, sócio do jornal Itaqui-Bacanga, já teria relações com o governo muito antes do Caso Bosco, e operava como lobbysta para intermediar “coisas” dentro da administração estadual.
Com a ascensão de Carlos Brandão ao cargo de governador em abril de 2022, Gilbson passou a ser mais atuante, inclusive sob tutela de um membro do alto escalão do governo que tem relações com a família do assassino de longas datas.
Gilbson Cutrim, na verdade, foi procurado por alguém de dentro do executivo estadual e orientado a fazer contato com empresas que teriam dinheiro a receber de “restos a pagar” e com chance quase zero de ser pago. Assim, o lobbysta teria feito contato, por exemplo, com a SH Vigilância e acertado um percentual de propina com a empresa para que o dinheiro fosse liberado.
Muitos políticos estariam mordiscando pequenas ou grandes fatias de dinheiro com origem suspeita, talvez de esquema dessa natureza, e a contabilidade era feita à mão.
A cada recebimento, uma folhinha com anotações contendo nome e quantia a ser destinada. A lista tem nomes de políticos conhecidos e outros nomes que os jornalistas ainda estão investigando para saber de quem se trata.
Um fato curioso é quequando falou pela primeira sobre o caso, o próprio governador Carlos Brandão revelou que 90 empresas estavam na mesma situação da SH Vigilância e 70 já haviam recebido dinheiro do governo. Assim como também é importante salientar que foi o sobrinho do governador, Daniel Itapary Brandão quem fez contato com Gilbson, conforme depoimento.
À polícia cabe a responsabilidade de aprofundar as investigações em torno do assassinato de João Bosco, e averiguar se, assim como no caso da SH Vigilância, as outras 69 empresas, que receberam dinheiro do governo na mesma situação, também precisaram pagar propina.
À polícia cabe também investigar se os documentos obtidos pelos jornalistas que mostram distribuição de dinheiro à políticos têm relação com essa possível teia de corrupção dentro do governo do estado.
Colocaremos à disposição da Polícia e/ou da Justiça os documentos e informações obtidas, para que sejam periciados. No entanto, o comportamento da Polícia frente ao caso denota total falta de credibilidade para investigar os fatos haja vista o envolvimento político da cúpula da Segurança do Estado com o governador na Campanha Eleitoral.
Quando houver federalização do caso, e a polícia local não mais estiver à frente das investigações, os jornalistas poderão repassar tudo que já foi apurado à nova equipe de investigação.